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Morro dos Navegantes – Restaurante e Pousada em Ilhéus

Antes de mais nada, o restaurante Morro dos Navegantes em Ilhéus (BA) é um pequeno paraíso. São horas gostosas de contemplação da natureza e do mar, então, não esqueça desse imenso detalhe na hora de fazer sua reserva.

Falando em reserva, é possível hospedar-se na Pousada Morro dos Navegantes, o restaurante é uma parte deliciosa desse cenário, que procurei retratar nos meus dias de visita.

Não fiquei hospedado na pousada, na verdade, fui a Ilhéus convidado pelo Festival do Dendê ao Cacau, para palestrar sobre Mídias Sociais para Turismo, Gastronomia e Hospitalidade e também cobrir o evento. Porém, o restaurante e as áreas comuns da pousada tive a oportunidade de desfrutar em todas as minhas horas vagas.

Bobó de Camarão

Chef Dani Façanha

A comida da chef Dani Façanha tem a potência de fundos bem preparados para molhos, caldos e cozidos; responsáveis por emocionarem o paladar. Por outro lado, ela não abre mão da delicadeza de aromas, sabores e texturas.

Seus pratos chegam à mesa coloridos, alegres, floridos, decorados com ingredientes frescos. Carregam a personalidade da chef, bem como o sabor da Bahia, especialmente de Ilhéus, com itens frescos comprados direto dos produtores da região. Enfim, é tudo o que desejamos encontrar num destino de viagem, identidade local.

O talento da chef baiana foi lapidado durante cinco anos de estudo com o mestre Laurent Suaudeau , reconhecido por aplicar técnicas francesas aos ingredientes brasileiros, desde que chegou por aqui nos anos de 1980.

Pra mim, Laurent é o melhor e mais generoso chef e professor que conheço. Formou e continua formando, desde o ano 2000, quando abriu sua Escola Laurent Suaudeau, inúmeros talentos brasileiros, chefs que enriquecem a diversidade e regionalidade das muitas comidas do Brasil.

Pastel de Camarão

Morro dos Navegantes – Restaurante

Comece com um Bellini baiano, o coquetel clássico, aqui feito com mel de cacau e espumante. Mel de cacau, gente. Provem mel de cacau!

Confesso que comi:

Couvert – delicioso dadinho de tapioca com geleia de cupuaçu, chips de banana, mandioca e fruta pão.

Tapioquinha ao dendê recheada de aratu (caranguejo) – uma surpresa, a chef mistura dendê no preparo da tapioca, deixando-a não só com a bela cor alaranjada, mas também mais macia e úmida.

Pastel de Camarão – crocância perfeita, sequinho e com recheio caprichado.

Camarão crocante com vatapá – camarão carnudo, fresco, croc, croc, croc e um vatapá pra chuchar sem medo de ser feliz.

Camarão Crocante com Vatapá

Cassoulet de frutos do mar – há uma delicadeza de sabores no prato. A chef empresta da cozinha francesa o nome e as técnicas desse tipo de feijoada, preparada com feijão branco e carnes. Então, em seu restaurante Morro dos Navegantes substitui os ingredientes por fava e frutos do mar.

Fettuccine aos Navegantes com frutos do mar – olha que nessa massa tem molho, hein! Uma riqueza de frutos do mar.

Spaghetti al limone com Camarão – que delicadeza esse prato, o ponto perfeito do spaghetti, resistente a mordida, um molho cítrico bastante suave e camarões macios.

Igualmente provei: Bobó de Camarão, Mariscada, Moqueca mista exótica com peixe, camarão, banana da terra, gengibre e manga. Qual meu preferido? Vou precisar provar tudo de novo. Hahahahaha!

Cocada – além de ser boa, olhem só a apresentação do prato! Depois de comer é só rachar o coco e continuar comendo.

Spaghetti al limone com Camarão

Entrevista

Pedi para a Dani nos contar sua história, dessa forma, tudo o que vocês lerão abaixo eu transcrevi de um depoimento dela, os subtítulos ficaram por minha conta. Aproveitem!

Dani Façanha por Dani Façanha

“Sempre gostei de cozinha, mas nunca pensei em fazer disso uma profissão. Cozinhar pra mim era um hobby, queria experimentar coisas diferentes, por isso preparava receitas de livros e revistas em casa, além de ajudar minha mãe no dia a dia.

Morei dentro da EMARC – Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). Meu pai era professor da escola técnica.

A gente tinha um pomar grande na nossa casa e a escola possuía horta e centro de tecnologia de alimentos, então eu tinha acesso a muita informação. Mas, mesmo assim, fui estudar e me formar em Letras.

Pousada Morro dos Navegantes

Quando comecei a namorar com meu futuro marido, José Façanha, ele tinha uma casa de praia em Ilhéus, que sonhava transformar numa pousada.

Pegou sua casa, que era grande, e dividiu em alguns apartamentos. Fora isso, tinha uma salinha, onde era servido o café da manhã, assim, uma coisa bem pequena, de improviso.

Estava no último ano da faculdade de Letras, quando comecei a ajudar no café da manhã. Fazia os bolos, os pães, biscotinhos, aquelas coisas de casa.

Naquela época aqui era zona rural, o pessoal considerava distante da cidade. Essas casas, os condomínios e hotéis maiores; era tudo área verde. Muito distante pras pessoas.

Tapioquinha ao dendê recheada de aratu

Então, a gente recebia um representante de empresa, alguém da cidade que queria vir namorar escondido. Aqui era aquele lugar que só vinha um indicando o outro. Não tinha dinheiro pra divulgação. Naquela época ainda não havia nem telefone fixo na pousada.

No verão, o fluxo de caixa era maior, precisávamos guardar o dinheiro pra sustentar a pousada o ano todo, tudo muito difícil.

Para aumentar a renda eu comecei assim, os poucos hóspedes que a gente tinha não queriam sair, então eu fazia uma muquequinha, aí um hóspede falava, eu quero comer um arroz e feijão com ovo frito, eu fazia. O que o pessoal pedia eu fazia, aquela coisa personalizada. Eu ia no mercadinho, comprava as coisas e fazia.

A gente servia na varanda dos apartamentos eu e meu marido. Naquela época cuidávamos de tudo, porque só havia um caseiro e duas moças, uma de limpeza e uma camareira.

Mariscada

Restaurante Morro dos Navegantes

Com o tempo um foi indicando o outro e o movimento foi aumentando. A gente começou a ter um fluxo maior nos finais de semana. Durante a semana ficava aquela coisa ociosa de segunda à sexta-feira. Decidimos então, abrir o restaurante para o público, não só para os hóspedes.

A gastronomia foi o que impulsionou o nosso negócio e nos deu condição de começar servindo na varanda dos apartamentos, depois fazermos uma área pequenininha de restaurante, que foi sendo ampliado. A gente foi fazendo os gazebos e as áreas externas aos poucos.

Construímos mais apartamentos, com o tempo ampliamos alguns e fizemos melhorias. As camas, que eram tradicionais, mudamos para king size, a gente foi investindo mais.

Hoje temos aqui os apartamentos Standard, que são os primeiros, mais simples, menores. Apartamentos Vista Mar mais amplos, que tem a pérgola na varanda e nossa Suíte com hidromassagem.

Tudo isso a partir da movimentação do restaurante. Eu comecei a fazer também muitos eventos. Eu fazia festas, jantares dançantes, pra poder pagar as contas. A gente tem uma área muito grande, então manter tudo isso aqui é muito difícil.

Reflorestamento

Durante todos esses anos, fizemos reflorestamento. Lá atrás, no morro, havia uma grande erosão, então plantamos diversas árvores, muitas frutíferas. Hoje tem jaqueira, pé de jambo, vários tipos de madeira, pé de maçaranduba, ipê, jequitibá, muita coisa plantada.

Enfim, tudo que hoje tem aqui com relação à vegetação foi a gente que plantou ao longo dos anos. Eu gosto da sensação de estar inserida na natureza, sem agredir, em harmonia.

Cassoulet de frutos do mar

Influência do mestre francês Laurent Suaudeau

Voltando pra gastronomia, com o tempo vi que eu tinha que começar a dar uma melhorada na minha cozinha, precisava fazer uns cursos. Meu marido foi um grande incentivador.

Primeiro comecei a fazer cursos no CEG (Centro Especializado em Gastronomia) em Moema (SP). Eu tinha vontade de criar uma base bem técnica. Como eu não podia me ausentar muito tempo aqui da pousada pra ficar fora ou fazer universidade, preferi fazer cursos por módulos.

Então, conheci a Escola Laurent Suaudeau. E aí eu fiz todos os módulos com ele. A cozinha do chef Laurent mudou o meu olhar. Quando comecei a cozinhar eu fazia a minha comida do dia a dia, mas eu tinha vontade de fazer algo diferente, aquela cozinha francesa.

Enfim, mudou meu olhar pra eu valorizar também a questão regional e ver que eu podia fundir as duas cozinhas. Eu podia dar mais leveza e deixar a cozinha regional mais sofisticada.

Fettuccine aos Navegantes com frutos do mar

Pequeno Produtor

Então aqui, por ser uma pousada, eu tenho que misturar de tudo um pouco, não dá pra ter um restaurante específico. Eu tenho cozinha baiana, eu faço algumas coisas italianas, mas eu procuro utilizar os ingredientes mais frescos, comprar na mão do pequeno produtor. Eu gosto desse contato, de estar na feira todos os dias, comprar as coisas, bater papo, porque lá é um lugar que você ensina e você aprende muito.

Por exemplo, você vai comprar uma tapioca aí a pessoa lá te dá uma dica, como é que faz. Aí você já pega uma ideia, tá entendendo? Então eu gosto muito desse contato com pessoas antigas de feira, que elas sempre dão umas ideias boas.

Moqueca mista exótica com peixe, camarão, banana da terra, gengibre e manga

Formadora de Mão de Obra

Uma coisa que um cliente me falou outro dia, que eu não tinha pensado ainda, que hoje eu também sou uma formadora de pessoas.

Muitas pessoas já passaram pela minha cozinha no Morro dos Navegantes e estão trabalhando em outros lugares. Eu nunca pensei nesse lado, mas eu tenho vontade de montar uma escola de cozinha pra pessoas carentes, sei lá, umas oficinas.

Cocada

De Cozinheira à Chef

Projetos não faltam! Tenho uma área de forno à lenha onde eu quero fazer uma cozinha pra aula show, pra promover minicursos, receber convidados, fazer eventos pra empresas, fazer noites temáticas com presenças de chefs, fins de semanas ligados à gastronomia.

Quando eu comecei cozinhar há 24 anos, aqui em Ilhéus não era comum o dono estar na cozinha. As pessoas achavam muito estranho, perguntavam: é a dona que cozinha? Eu já sofri preconceito por isso. Estamos na região dos coronéis, fulano é da família tal, sicrano é da família tal.

Hoje tem a glamourização da gastronomia por causa dos programas de televisão. As pessoas querem saber quem está na cozinha. Mas aqui, no interior, antigamente não era assim, não.

Pra mim trabalhar na cozinha é uma coisa que me realiza muito. Eu digo que a gastronomia já me salvou várias vezes, já me salvou de depressão. Esse período da pandemia, por exemplo, eu trabalhei com delivery e foi o que me ajudou a me manter física e psicologicamente bem.

Futuro

Hoje, eu quero melhorar minha cozinha, sei que tenho muito a aprender ainda, mas meu projeto mais pra frente é melhorar meu negócio, transformar minha pousada numa pousada de charme, quero fazer uma piscina nova, um bar de praia, quero fazer mil coisas.

Quero fazer outros cursos e também receber os chefs aqui, porque nessa troca a gente aprende bastante. Foi muito bom esse Festival do Dendê ao Cacau. Logo vai ter o Festival do Chocolate, que eu já participo todo ano, é também uma troca boa de experiência com pessoas.

Ilhéus, eu vejo que está mudando muito, estou feliz de ver que estamos entrando no circuito da gastronomia. Porque todo mundo só fala da cidade como praia, como beleza natural, como terra de Jorge Amado. Agora as pessoas vendo Ilhéus com potencial gastronômico, eu acho muito importante.

Instagram da Pousada e Restaurante

 

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