O OBA Gastronomia de hoje está bem diferente. A Stella Cavalcanti, nossa colunista do Bolinhos da Telinha, me enviou uma história que faz parte de um CD (Brincadeiras de Roda e Canções de Ninar), de autoria de Solange Maria e Antonio Carlos Nóbrega e narrado por Elba Ramalho.
Em uma cidadezinha pequena, longe da capital, morava um homem viúvo com a sua filha única.
Numa casa perto deles, uma vizinha solteira resolveu se casar com o viúvo, e começou a fazer muitos agrados para a menina, e toda tarde a menina ia visitá-la, e era sempre recebida com guloseimas e brincadeiras.
Um dia, a menina falou para o pai: “Papai, porque o senhor não casa com a nossa vizinha? Sempre que vou na casa dela, ela me dá pão com mel.”
O pai respondeu “Minha filha, no dia que ela for sua madrasta, ela te dará pão com fel…”
Mas tantos agrados a vizinha fez que conquistou o coração da menina, e vendo a filha tão feliz, o pai resolveu se casar com a vizinha, certo de que ela seria boa mãe.
A madrasta tratava bem a menina e o pai teve confiança para poder viajar e resolver alguns assuntos na capital.
Foi aí que a madrasta começou a maltratar a menina, mostrando sua verdadeira face. Qualquer coisa errada era motivo para castigo. Como a figueira estava carregada, a madrasta ordenou que a menina ficasse tomando conta para que nenhum passarinho picasse os figos.
A menina, triste e cansada, passava os dias com uma varinha na mão, espantando os passarinhos. Só que num dia muito quente ela adormeceu e os passarinhos comeram os figos.
A madrasta deu uma surra tão forte na menina que ela ficou como morta. Assustada, a madrasta a enterrou num canto do terreno, e quando o pai voltou da viagem, disse que a menina pegou uma febre ruim e morreu.
Poucos dias depois, um capinzal cresceu onde a menina foi enterrada. Mandaram um empregado limpar o terreno, e na primeira pancada da foice, o rapaz ouviu um lamento cantado
Carpineiro de meu pai
Não me corte meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelos figos da figueira
Que o passarinho bicou
Xô, passarinho, da figueira de meu pai
Xô, passarinho, da figueira de meu pai
O homem saiu correndo e foi avisar ao pai da menina que o capinzal estava assombrado.
O pai não acreditou e foi junto para tirar a prova. Assim que o empregado cortou a primeira touceira de capim, o lamento voltou a ser cantado
O pai reconheceu a voz da filha e, cheio de esperança, cavou a terra com as mãos, salvando a filha da maldição da madrasta, que desapareceu para nunca mais ser vista por ninguém.
E entrou pela perna do pato, saiu pela perna do pinto. El-Rei mandou dizer que você conte mais cinco.
A Telinha me enviou depois de ter feito um comentário em uma publicação minha com os figos aqui de casa, que todos os anos divido com os passarinhos visitantes.